Sem Nome

Maio é um mês dedicado a muitas comemorações e homenagens, as mães, as noivas, as famílias, a literatura brasileira, os cuidados com a saúde e muitos outros. Mas para nós, católicos, é imprescindível dizer que é o mês mariano. E se você está lendo isso, é quase certo que você já viu ou ouviu algo a esse respeito porque no mês mariano católicos em toda parte realizam com mais intensidade demonstrações de fé na intercessão da Virgem Maria junto a seu Filho Jesus Cristo e isso é um péssimo sinal. 

Calma, não estou indo pelo caminho de alguns de nossos irmãos cristão não católicos que dedicam tempo a rechaçar Maria e a devoção católica a ela dedicada. Mas proponho um exercício simples, faça aqui uma pausa na leitura e pense no que é devoção. Permitindo que o doutro angélico nos ajude, São Tomás de Aquino diz que devoção é “a vontade pronta para se entregar a tudo que pertence ao serviço de Deus”.

Com essa definição em mente, eu quero que você responda, qual o único santo citado no Credo Apostólico?

Infelizmente as vezes nós recitamos as orações que aprendemos (muitas vezes na infância) e não paramos para refletir muito sobre elas, talvez você tenha parado e recitado a oração do credo mentalmente para descobrir. Se você fez isso você já descobriu que o santo é uma santa, a Santíssima Virgem Maria, ou seja, a devoção a Santa Mãe de Deus existe desde a basilar fundação da Santa Mãe Igreja, sendo um fundamento indiscutível da nossa fé, ou seja, não existe essa coisa de ser católico e não ser mariano, a crença, o respeito, a devoção etc. a Virgem Maria é pré-requisito da fé católica.  

Mas não me interprete mau, mariano aqui é no mais leve significado da palavra, não estou me referindo aquela pessoa caricata do imaginário popular que tem uma imagem da Virgem Maria ao pé da cama, que já decorou seu devocionário, se consagrou e reza o rosário todos os dias. Todas essas práticas são bem-vindas na vivência da fé e até recomendadas pela Santa Mãe Igreja, mas nesse caso, estou me referindo ao católico que entendeu que não dá para viver sua fé católica integralmente sem ter a Virgem Maria como parte dela, nesse sentido todo católico é mariano. 

O que faz com que a definição de devoção de Santo Tomás de Aquino faça ainda mais sentido, a final, “Faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38), foi a resposta da Virgem Maria ao anjo no momento da anunciação. 

O fato de São José, esposo de Maria, ser comumente destacado por não haver nenhuma fala direta dele nos evangelhos, faz com que muitas vezes não percebamos que Maria, embora fale em alguns momentos, também não possui muitas falas diretas nas sagradas escrituras. Dentre as poucas que tem, podemos dividi-las essencialmente em quatro tipos, falas de obediência a Deus, falas de louvor a Deus, falas de intercessão junto a Deus e falas de cuidado para com Deus, ou seja, a Santíssima Virgem Maria não abriu a boca para falar nada por ela ou para ela em toda a Sagrada Escritura, é sempre por e para Deus, enquanto muitas das demonstrações de fé do mês mariano sofrem de alguns problemas.

Primeiro, sendo uma demonstração de fé é verdadeira e sincera, essa vivência não deve ser vivida apenas em um mês do ano, precisamos ser católicos o ano inteiro, lembrar da devoção apenas no mês de festejo não é ser devoto é ser oportunista. É o mesmo que dizer, “eu não bebo, mas quando está todo mundo bebendo eu bebo também” ou dizer “a oportunidade faz o ladrão”, desculpe informar, mas, você bebeu porque quis e você já era ladrão antes, só não tinha tido a oportunidade de roubar.

Segundo, é provável que alguém argumente que durante o mês de maio se intensifica para evangelizar, mas embora essa seja uma argumentação até válida em alguns casos, permita-me lhe dizer que ao afirmar isso, a pessoa está sendo muito presunçosa. Não que seja impossível, pois nada é impossível para Deus, mas ficar falando, fazendo, apoiando e divulgando reclamações, incoerências e heresias a fim de tentar adequar a verdade de fé da Santa Mãe Igreja aos próprios pecados de estimação durante a maior parte do ano e no mês de maio dizer que está intensificando a evangelização porque é o mês mariano é um verdadeiro desserviço a Igreja de Cristo. 

Sendo assim, um favor feito para a própria alma, é começar em silêncio tentado converter-se e só depois buscar evangelizar mais. E aqueles que não fazem nada disso, mas não custa lembrar que o tempo de evangelizar é o tempo todo, não precisa esperar nenhum mês específico do ano. Comece e não pare mais, que sua vida seja um contínuo evangelizar e evangelizar-se. 

Terceiro, certa vez eu fui com uma sem nome para um encontro do movimento Focolares, ela não conhecia o movimento e uma senhora parou para conversar com ela e contar um pouco a respeito. Ela lembra desse dia até hoje, da docilidade do agir daquela senhora, do amor com que ela falava de Deus e do movimento, da paciência com que ela a tratou. Nas palavras dela “dava para ver o brilho no olhar, dava para sentir a fé dela enquanto ela falava”. 

Podemos dizer que essa foi uma experiencia que ela teve com uma pessoa devota, essa é devoção que todo católico é chamado a viver e propagar, uma entrega sincera a Deus, seguindo o exemplo da Virgem Maria. A final esse é um dos ofícios dos Santos em nossa fé, inspirarmos o exemplo a seguir a fim de nos aproximar de Deus. Por isso eu deixo aqui um desafio para os avivados do mês mariano, tais demonstrações de fé, mesmo que sinceras e com a intenção genuína de evangelizar, conseguem passar em um exame de consciência simples com duas perguntas, “a Santíssima Virgem Maria faria isso?” e “esta ação agrada a Deus?”.

Coloquei duas perguntas de maneira provocativa, mas se a resposta para a pergunta “a Santíssima Virgem Maria faria isso?” for não, há uma gigantesca chance da resposta outra também ser não. E caso você inverta a ordem e perguntar primeiro “esta ação agrada a Deus?” e a resposta for não, nem precisa fazer a outra, pois Maria jamais faria algo que desagradece a Deus. 

Pensando nisso, sim a intensificação das demonstrações de fé na intercessão da Virgem Maria junto a seu Filho Jesus Cristo é em muitos casos um péssimo sinal, mas a solução não é abandonar a devoção e/ou ignorar o mês mariano, a solução pode ser o oposto a essa, precisamos aprender com Maria que,

“observava silenciosa todos os acontecimentos, e refletia sobre eles em seu coração” 

(Lc 2, 19). 

Nesse mês mariano, que possamos antes de tudo buscar imita-la, refletindo sobre tudo que acontece em nossa vida, dos grandes acontecimentos aos pequenos detalhes, porque se desejamos que Deus seja o nosso tudo assim como foi o tudo de Maria, precisamos em tudo buscar por Ele.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.