Costumo viver da Santa Missa dominical pela manhã, tento sempre chegar ao menos meia hora antes da missa, pois começo a rezar o Santo Terço ao sair de casa e ao terminar fico meditando um pouco antes do início da missa. Em um dia especifico o meu rito matinal ficou um pouco diferente. 

Uma família sentou-se no banco ao meu lado, três gerações ali representadas. A matriarca, uma senhora educada, mas que demonstrava o incomodo pela filha ainda não ter muito jeito com a criança. A filha, aparentemente mãe de primeira viagem, com o bebê no colo. E o recém-nascido que inquieto hora resmungava, hora chorava alternando dos braços da mãe para os braços da vó. 

Ambas perceberam que eu estava rezando o terço e ficaram constrangidas com a situação e saíram do banco onde eu estava, mudando para o banco atrás de mim, como elas não falaram nada comigo, eu também, não disse nada. Logo, mais pessoas foram chegando para a missa e elas saíram do banco que estavam para não incomodar alguns casais que não só demonstraram insatisfação como também não tiveram a menor cerimonia em falar sobre aquilo, assim elas mudaram para o banco a minha frente. 

Eu terminei de rezar o terço e observando aquela situação, fiquei refletindo sobre, desejava dar-lhe uma palavra de apoio naquele momento, pois já imaginava aquela família não voltando a missa tão cedo diante daquela dificuldade. Escolhi acreditar (você que está lendo não precisa) que o anjo da guarda da criança simpatizou comigo e ofereceu-me a oportunidade, a criança pegou o bico e lançou na minha direção, para um recém-nascido ele tinha muita força, acertou-me no ombro. 

A mãe ficou muito envergonhada e pedindo muitas desculpas se levantou de cabeça baixa para sair, a vó aproximou-se e pedindo desculpas veio na minha direção para apanhar o bico do chão. Eu peguei o bico do chão e entreguei a vó sorrindo e respondi que não tinha problema, estendi a mão tocando na ponta da camisa da criança e sorrir dizendo, “rapazinho, se sua mãe não tiver um reserva, você vai ficar sem bico até a missa terminar”.

A mãe me olhou surpresa, talvez por esperar que eu fosse fazer alguma reclamação. Então eu disse para as duas, “aqui está o futuro da humanidade e da dignidade da Igreja, queria que tivéssemos mais”.

Nessa hora o padre passou por nós, abençoou a todos e elas voltaram a sentar e ficaram a missa inteira. Ao final, elas me pediram desculpas mais uma vez e eu brinquei respondendo, “desculpo-as na semana que vem, para garantir que as encontrarei aqui novamente”. 

Elas sorriram e concordaram. Eu saí da igreja naquele dia pensando sobre isso, o quanto está na moda entre os católicos afirmarem que são abertos a vida, muitas vezes, infelizmente, para se sentirem superiores e mais católicos do que os outros. Cabe a todos nós um exame de consciência, ser aberto a vida em sua concepção plena é dever de todo o católico e não uma simples vertente de opinião, mas torna-se contraditório desejar que os casais tenham quantos filhos Deus desejar que eles tenham e não está disposto ao mínimo incomodo que a presença de uma criança pode causar. 

Defender a vida genérica de números em uma planilha que podem representar pessoas é fácil, isso é o tipo de coisa que qualquer um faz. Defender a vida que está do seu lado, acolhendo e amando-a é bem mais difícil, requer esforço e por isso é o tipo de coisa que católico faz. É o tipo de coisa que Jesus nos mandou fazer. 

Acolha as famílias da sua paróquia, ajude-os com as crianças se for o caso, ofereça o seu lugar cativo (eu sei que você tem um, todo católico tem seus lugares preferidos de se sentar na igreja), abaixe e pegue algo que tenha caído no chão, busque um copo com água ou um papel toalha se necessário. São nos pequenos gestos que você defende a vida que está ao seu lado, porque um pequeno gesto pode ser a diferença entre uma família que vem a missa toda semana e a família que nunca mais voltou. 

Caso tenha curiosidade, elas voltaram no domingo seguinte e nos outros também e agora o avô vem junto. E todas as vezes que eles se sentam no banco a minha frente, eu observo a criança e gosto de pensar que naquele colo de mãe eu estou olhando, como disse o Papa Francisco, “para a grandeza da dignidade humana e o futuro da Igreja”. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

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