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No domingo o túmulo vazio

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(Jo 20,1-9)

No primeiro dia da semana, bem de madrugada, Maria Madalena vai ao túmulo e vê que a pedra foi retirada. Corre para contar a Pedro e ao discípulo amado. Ambos correm, veem o túmulo vazio, e então o Evangelho diz: “ele viu e acreditou”.

Mas acreditou no quê, exatamente?

Essa pergunta não deveria nos assustar. Não estamos desmerecendo a fé dos apóstolos, tampouco nos colocando como juízes do texto sagrado. Mas é inevitável nos perguntar: ao encontrar um túmulo vazio, nós acreditaríamos em quê?

Santo Agostinho observa que o discípulo amado não acreditou de imediato na Ressurreição, mas acreditou no testemunho de Maria Madalena, na ausência do corpo, no início de algo que ainda não compreendia. Não era ainda a fé plena no Ressuscitado, mas o passo inicial de uma fé que vai se desvelando. Como muitas vezes acontece conosco.

Quantas vezes somos como Maria, que olha para o vazio e se desespera. Como Pedro, que entra sem entender. Ou como o discípulo amado, que vê e começa a crer.

“Pois ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9).

Sim, mesmo diante do túmulo vazio, ainda faltava-lhes o entendimento. E muitas vezes nos falta também. Vivemos cercados de sinais, mas nosso coração está como que fechado ao entendimento das Escrituras.

São Gregório Magno reflete que o túmulo vazio é o primeiro anúncio da Ressurreição, mas que somente o coração que ama é capaz de reconhecê-lo como tal. Maria Madalena amava tanto que voltou ao túmulo, mesmo sem saber o que esperar. O amor dela a levou ao lugar do silêncio, da ausência, da dor… e ali, pela constância do seu amor, ela será recompensada: verá o Ressuscitado antes dos outros.

O discípulo que chega primeiro não entra, espera Pedro. Aqui há um sinal de respeito à autoridade, mas também uma pedagogia de Deus. São João Crisóstomo comenta que mesmo sendo mais jovem, o discípulo espera Pedro entrar primeiro como reconhecimento de sua missão. Uma Igreja que corre, que busca, mas que respeita o passo da tradição apostólica.

Mas talvez o ponto mais provocador esteja no final do texto: “Eles ainda não haviam compreendido que era necessário que Jesus ressuscitasse dos mortos” (Jo 20,9).

Ora, não eram eles os discípulos mais próximos? Não tinham caminhado com o Mestre? Não lhes havia Ele falado da Paixão e da Glória? Ainda assim, diante da realidade do túmulo vazio, lhes faltava compreensão. E se faltava a eles, quanto mais a nós!

Santo Ambrósio nos alerta que a fé é dom e amadurecimento. Acreditar não é compreender tudo de uma vez, mas acolher, seguir, amar. O túmulo vazio não entrega respostas, mas exige amor e memória.

Crer na Ressurreição não é ver um corpo glorificado, é ver a ausência e ainda assim permanecer. Crer não é ter certeza sensível, é ter fidelidade a uma promessa.

É por isso que o texto termina no vazio. Não há anjo aqui, não há aleluia, não há revelação imediata. Apenas um túmulo sem corpo. Um sinal que exige fé. E se a fé de Pedro, de João e de Maria Madalena se iniciou no silêncio do sepulcro vazio, talvez a nossa também precise recomeçar desse mesmo ponto.

Não precisamos de milagres extraordinários. Precisamos da coragem de amar diante do que parece ausência. Não precisamos de explicações racionais para tudo. Precisamos lembrar do que Ele disse. Não precisamos ver para crer. Precisamos permanecer até que o Ressuscitado se revele.

Talvez seja por isso que São Gregório afirmou:

“A fé verdadeira não nasce daquilo que se vê, mas daquilo que se escuta no silêncio de Deus”.

Se hoje você contempla a ausência de sinais, se seu coração encontra túmulos vazios por onde olha, se parece que tudo está silencioso…Permaneça.

É no amanhecer do silêncio que Ele ressuscita.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.