A famosa (ou, hoje em dia, infame) passagem de São Paulo, no capítulo 5 de sua carta aos Efésios serve de base para as reflexões do Papa sobre o casamento. Um versículo especialmente causa arrepios e forte reação no mundo feminino: “Mulheres, sede submissas aos vossos maridos”. Nossa! Como é que pode? 

É verdade que, ao longo da história, alguns homens usaram esse versículo para justificar seu domínio pecaminoso sobre as mulheres. (Sim, de acordo com o Gênesis 3,16, a dominação masculina é uma decorrência direta do pecado). Mas antes de descartar São Paulo, como se fosse um machão chauvinista, vejamos a interpretação de João Paulo II sobre as palavras paulinas. Aqui o Papa reabilita o verdadeiro sentido de Efésios 5, aplicando uma das mais importantes regras da interpretação bíblica: ler cada versículo em seu respectivo contexto. 

Eis a passagem completa: 

Sujeitai-vos uns aos outros no temor a Cristo. As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor. Pois o marido é a cabeça da mulher, como Cristo também é a cabeça da Igreja, seu Corpo, da qual ele é o Salvador. Por outro lado, como a Igreja se submete a Cristo, que as mulheres também se submetam, em tudo, a seus maridos. Maridos, amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra aquela que ele purifica pelo banho da água. Pois ele quis apresentá-la a si mesmo toda bela, sem mancha nem ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito. É assim que os maridos devem amar suas esposas, como amam seu próprio corpo. Aquele que ama sua esposa está amando a si mesmo. Ninguém jamais odiou sua própria carne. Pelo contrário, alimenta-a e a cerca de cuidado, como Cristo faz com a Igreja; e nós somos membros de seu corpo! Por isto, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Este mistério é grande – eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja (Ef 5,21-32). 

Discussões à parte, procuremos “compreender, se possível ‘até o mais profundo’, a riqueza revelada por Deus nesta página maravilhosa” (28.07.1982). Este “clássico texto-chave” – como o denomina o Papa – nos mergulha na glória e grandeza do plano de Deus, criando-nos homem e mulher e chamandonos à união sexual. Mais ainda, ele serve de “compêndio ou resumo, em certo sentido, do ensinamento em relação a Deus e ao homem, o qual foi levado à realização por Cristo” (CF n. 19). 

Se o amor esponsal de Deus à humanidade se encontrava apenas “semiaberto” no Antigo Testamento, aqui ele aparece “plenamente revelado” (sem, no entanto, deixar de ser mistério) (22.09.1982). Por outro lado, através desta revelação do amor esponsal de Deus, nos tornamos “testemunhas de uma união especial do mistério (de Deus) com a verdadeira essência da vocação matrimonial” (11.08.1982). 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.

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