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Alguns dias atrás eu estava ouvindo uma pregação do padre Paulo Ricardo a respeito de São Luís Maria Grignion de Montfort (ouça aqui), não obstante a todos os feitos desse grande santo da Igreja, uma informação me fez compartilhar com alguns amigos a pregação, o fato de que São Luís de Montfort realizava as suas viagem a pé.
Compartilhei com amigos dizendo que eu era devoto de São Luís de Montfort e não sabia, quem é mais próximo a mim sabe que se eu puder chegar andando no lugar, dificilmente irei escolher outro meio de transporte que não seja as pernas que Deus me deu. Não é por acaso que meu último tênis estava marcando 1.915 km de uso no app do NRC. A diferença central é o caminhar de São Luís de Montfort caminha para Deus, já eu nem tanto.

Já comentei aqui que costumo caminhar rezando o terço e por vezes coisas não comuns acontecem, mas algumas vezes o que é comum para nós, não é tão comum assim. O lugar onde atualmente moro, me faz atravessar uma ponte para chegar as casas de minha mãe, minhas irmãs e muitos amigos, assim como muitas vezes passo por ela para ir a região de comércio. Eu poderia com toda a certeza pagar uma passagem e chegar em 15 minutos, mas isso não se compara a 40 minutos de caminhada, contemplando a beleza da criação de Deus na companhia da Virgem Maria ao rezar o santo Terço.
Muitas pessoas aproveitam a passarela da ponte para realizarem atividades físicas, eu comumente passo por ciclistas, pessoas correndo e caminhando. Sempre ali trocamos um sorriso, uma saudação, um aceno, natural de quem passa por outra pessoa em qualquer lugar, como nos disse Santo Padre Pio.
“Um sorriso custa pouco e conquista muito!”
Santo Padre Pio de pietrelcina
Naquele dia fatídico eu não estava com minha mochila e por isso não dispunha do meu pequeno terço, que deixo sempre nela. Pensei ter colocado a dezena no bolso antes de sair, mas não coloquei. Não quis voltar para buscar e pensei,
“O terço é a arma, mas o soldado sou eu”
E segui em frente rezando e contando as dezenas nos dedos, no meio da ponte percebi que uma mulher que vinha com a filha me olhava diferente, passaram por mim e me cumprimentaram de maneira desconfiada. Eu segui em frente e passei por uma família que caminhavam juntos, um senhor de idade, um homem e um menino, diria que eram avô, pai e filho, as gerações que caminhavam devagar para que o mais velho não ficasse para trás, já havia passado por eles em outras ocasiões, mas dessa vez eles me olhavam com um olhar diferente e eu comecei a pensar o quê tinha de errado comigo, seria minha roupa, meu cabelo, será que estava sujo.
Curioso como nosso humano fala mais alto diante dessas situações, busquei nas trivialidades resposta para o que acontecia, mas quando os cumprimentei, eles acenaram de volta e o menino disse ao adultos,
“Ele hoje não está rezando”
Sentir-me tolo naquele momento, quando percebi que as pessoas que passavam por mim naquele horário não estavam me olhando diferente por nada que eu tinha, mas pelo que eu não tinha. Eu não pretendia dizer nada, mas o pai repreendeu o filho, por fazer aquele comentário e eu me virei e respondi levantando três dedos para o menino,
“Estou com os dedos, a arma ficou em casa”
O senhor sorriu e respondeu “amém”, o menino olhou para o avô e disparou o pedido que me fez ganhar o dia, “Vô me ensina”, mas a resposta do avô foi inesperada, “sua vó ensina, porque eu não sei”, mas o menino não deixou por menos e respondeu “então ela vai ensinar a nós dois”. Eu sorrir e continuei o meu caminho.
Pensei nisso o dia inteiro, na importância dos sinais da nossa fé, em um mundo secularizado, esvaziado dos sinais da fé, onde muito se reclama que é cada dia mais difícil reconhecer um padre na rua. Acabamos esquecendo de nós mesmo e promovemos um desafio muito difícil de vencer, reconhecer um católico na rua, seja pela maneira de como se veste, como se porta, como fala, onde anda.
Somos católicos de muita cachaça e pouca oração, como brincou o Santo Padre Papa Francisco, católicos que discutem roupa e esquecem do pudor do comportamento, das nossas bocas “Ave Maria”, “Misericórdia”, “Santo Deus” e tantas outras palavras e expressões da nossa fé estão presentes em nosso vocabulário, mas não estão em nossas orações. Justificamos lugres e eventos onde estamos, com o pretexto de que lá podemos ser exemplos e evangelizar, mas continuamos ausentes onde mais deveríamos estar presentes e por isso as missas dominicais estão mais esvaziadas a cada semana. Hoje nos falta coerência.
Uns dizem que precisamos de algo novo, outros dizem que precisamos voltar nossos olhos para as origens, acredito que as duas coisas posições são legitimas, a exemplo de São Luís de Montfort, precisamos buscar a nova forma de viver a fé no nosso tempo, mas sem se distanciar da luz do evangelho, compreender nossa responsabilidade e nosso chamado em viver conforme a vontade de Deus e sem medo voltarmos a demonstrar nossa verdadeira fé, pois São Francisco já dizia:
“Tome cuidado com a sua vida, porque talvez ela possa ser o único Evangelho que o teu irmão irá escutar”.
São Francisco de Assis
A maioria de nós não será chamado a uma grandiosa missão, a viver como viveu São Luís Maria Grignion de Montfort, São Francisco de Assis, Santo Padre Pio de Pietrelcina ou como está vivendo o Santo Padre Papa Francisco, mas todos somos chamados a viver e testemunhar Deus nos pequenos detalhes da nossa vida.
Graça, Paz e Misericórdia.