Em tempos de internet 4.0 nós estamos habituados a nos expressar sempre que desejamos, o que antes fazíamos a poucos em grupos de amigos ou parentes, hoje fazemos a centenas, milhares e por vezes milhões. Muitos estão sempre em busca da viralização, dos seus 10 minutos de fama na internet e isso faz parecer que todos temos opiniões validas para tudo e quando não as temos, precisamos tê-las.

Mas se observamos com cuidado a nossa volta e a nós mesmos, vamos perceber que somos praticamente coagidos a termos um posicionamento sobre tudo, se antes se esperava que todo brasileiro entendesse de futebol, e que todo japonês entendesse de robótica, hoje se espera que todos nós sejamos capazes de opinar sobre política, economia, medicina, jornalismo, relações internacionais, estratégia de mercado, educação infantil, legislação, dentre tantos outros temas que claramente poucas pessoas tem reais condições de falar sobre com real conhecimento do que está dizendo. 

Pensando nisso, para refletirmos bem sobre falar, já parto da premissa que você, eu e qualquer outra pessoa que se proponha a falar de variados e diferentes temas a todo momento, com certeza tem grandes chances de falar besteira a qualquer hora. Mas então por que nos sentimos tão estimulados a falar sobre coisas das quais não temos conhecimento?

Não é incomum as pessoas a sua volta, amigos, familiares, colegas de trabalho e seguidores em redes sociais  lhe cobrarem uma posição sobre assuntos muitas vezes polêmicos que dividem opiniões, como orientação sexual, ideologia política, política econômica e vários outros, então você busca se posicionar, muitas vezes sem saber exatamente com o quê está concordando ou discordando, a final não são dois vídeos do YouTube e dois carroceis de imagens no Instagram que vão tornar você apto a compreender temas complexos. Mas então por que exigem sempre que nos posicionemos?

Em toda área do conhecimento humano existe a verdade testada e comprovada, assim como existe as hipóteses que podem ser comprovadas ou não, cientistas sérios sabem e deixam claro que existem verdades que são contextuais, pois os resultados dos testes podem mudar quando o contexto muda, um exemplo rápido disso, dez quilos de carvão podem manter um fogo acesso por quatro horas. Essa afirmação é verdadeira, mas a duração pode variar, depende da qualidade, da origem, do tipo de carvão, depende de se o lugar tem muito vento, se a temperatura está mais alta ou mais baixa e muitos outros fatores. Mas uma verdade que não pode ser negada é que é possível atear fogo em carvão.

Agora vem o problema, quando eu digo para você que é possível atear fogo em carvão e isso é uma verdade irrefutável, você começa a pensar em maneiras de fazer com que o carvão não pegue fogo e existem várias, mas algo que você acabou deixando para trás é que essas várias maneiras você acrescentou, elas não fazem parte do carvão, o que prova ainda mais que é verdade, é possível atear fogo em carvão. Não devemos ter opiniões diferentes sobre isso, podemos apenas pensar em maneiras de evitar que o carvão pegue fogo ou em encurtar ou prolongar seu tempo. Mas e se nesse momento alguém não gostar dessa verdade resolver levantar e dizer, “essa é sua opinião, opinião cada um tem a sua”? 

Sendo este um argumento muito popular hoje em dia, eu pergunto, se cada um pode ter sua opinião sobre qualquer coisa, para que eu preciso me preocupar em falar de coisas que eu sequer compreendo bem? 

Dificilmente, mas não é impossível, as pessoas vão te abordar para negar algo tão obvio com o fato de ser possível atear fogo em carvão, mas com toda certeza vão te questionar sobre coisas igualmente obvias mas que precisam de um pouco mais de conhecimento para serem explicadas do que simplesmente pegar o carvão e acender um fogo. 

Para nós católicos alguns questionamentos já são até previsíveis, Maria teve outros filhos? Por que padre não pode se casar? Matrimonio gay é permitido? Se há amor que mal tem? E tantos outros questionamentos que chegam a nós quase sempre como uma intimação a fazer diferente e não como um convite ao diálogo. Minha resposta como fiel leigo que no caminho da conversão cai sete vezes a cada pequeno passo ainda é muito humana e simples.

Você não é obrigado a ser católico, muito embora é sempre uma alegria no coração de Deus termos com Ele (Lc 15, 7). Mas se você deseja ter com Ele uma aproximação, não comece a se aproximar falando sem parar sobre tantas coisas das quais você não entende nada sob o pretexto de ser uma pessoa boa, evoluída e que pensa no bem comum. Antes de tudo isso, busque a humildade de silenciar, mesmo que te peçam para falar, siga o exemplo Dele (Lc 23, 3), e não esqueça que um bom filho reconhece a sabedoria de sua mãe, pois não é do auge dos vídeos de dancinhas no TikTok que já nos tornamos mais sábios do que os mais de 2 mil anos de conhecimento da Santa Mãe Igreja. É por isso que por mais arriscado que pareça, ainda hoje eu prefiro seguir com Santo Agostinho,

“Prefiro errar com a Igreja a acertar sem ela”.

Pois não confio que esteja acertando e se por um milagre eu esteja, onde está a caridade de acertar sozinho?

Percebam Deus nos pequeno detalhes

Graça, Paz e Misericórdia.

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